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quarta-feira, 14 de julho de 2010

CRÔNICAS AMAZÔNICAS - 4


NA VILA

Pensava que o calor seria insuportável, mas dei sorte. Na casa em que fiquei, é até bem tolerável. A casa é rodeada de árvores, do pomar, criado e agora sendo transformado num regime de agrofloresta, além de ser relativamente pequena a clareira aberta para esta casa. Quase não dá para ver o céu, se considerar a amplidão que via durante a viagem, nas imensas planícies, mas em compensação dá para viver confortàvelmente. É só não sair de casa. Porque se andar ao sol, aí a coisa é diferente. Não adianta chapéu, nada. Então saia pouco. Até porque as crianças não merecem ser torradas. Sair cedo ou no final da tarde não é recomendável devido ao risco da malária. No meio do dia o risco de insolação ou intermação é alto. Até o pequeno comércio da vila fecha entre onze e quinze horas, "mais ou menos". Isto faz com que o tempo aqui tome dimensões diferentes. Tudo anda mais devagar. Poucas coisas se fazem na hora combinada. Os acordos de encontros se fazem "aproximadamente". Não há stress, não há tensões pelos compromissos. As coisas fluem ao sabor do tempo, digo, do clima. Mas tudo vai acontecendo.
A grande surpresa foi a existencia de um centro de mídia. Uma rádio local e uma central de internet. Que funciona enquanto os geradores de luz estão ligados. Quando tem luz, tem wireless, para quem tiver laptop. Aos demais, alguns computadores para uso comunitário. Não usei, porque estava lá para outras funções, não me cabia usar o tempo para autorecreação. A escola tem tambem diversos computadores para os alunos e professores e o segundo grau funciona com a modalidade de ensino à distancia com presença de professores/monitores. E o nível é excelente. Conheço algumas pessoas que sairam daqui diretamente para universidades federais, sem o regime de cotas. Pura capacidade. As casas na sua maioria receberam de uma ONG painéis solares, o que permite a muitos, televisão, geladeira,até máquinas de lavar roupa, com moderação, pela propria opção dos moradores. São cerca de 600 residentes, segundo me disseram. As casas espalham-se entre trilhas da floresta. Saindo do centro da vila, não se vê os vizinhos. Alguns são ouvidos, principalmente as bombas d'agua, dos que não tem bomba elétrica, os que usam bombas a gasolina. Em alguns horários, ouve-se uma, outra, tres ou quatro. Ouve-se tambem os roncos das voadeiras chegando ou saindo. Mas ouve-se principalmente os sons da floresta: cantos de pássaros, insetos e macacos. Alertam-me contra serpentes. Que me dizem para não falar o nome, para não "chamar" Não se fala "cobra", fala-se "inseto". Os macacos fazem uma tremenda algazarra frequentemente. Mas são todos invisíveis na mata. E não sei se trote com a turista ou se verdade, me avisam para tomar cuidado com as crianças à tardinha, pois diversas vezes viram onças no local. Só esqueceram de me avisar dos micuins. Quando fiquei sabendo, já era tarde! Sabem, aqueles microcarrapatinhos, que aqui tem proporções amazônicas, ou, exageradas: o que é grande, é grande, o que é pequeno, é pequeno mesmo. No segundo dia, comecei a coçar e coçar, procurava durante a noite sem dormir, até com uma lupa e nada via. Na manhã seguinte quando minha filha acordou e pôde me ajudar eu já estava totalmente infestada, no tronco. E aquilo, mesmo após ser removido, continua a coçar e coçar, por dias. Cheia de placas vermelhas, coçando sem poder coçar, para não dar feridas. Remédios da floresta, cheguei a ficar de cama, por uma reação imunológica no dia seguinte ao "acidente". Pelo menos a partir deste primeiro "contato" fiquei esperta: só peguei uns novamente na véspera da partida. Porque abusei, fui aonde não devia, mas como sabia como proceder tão logo chegasse em casa, não houveram mais grandes problemas. Mosquitos, pràticamente não vi ou senti. Mas também não abri mão dos repelentes e à noite, dormia com moquiteiros.
Fiz diversas caminhadas em trilhas da floresta e além da beleza das matas, fiquei encantada com os perfumes que toda hora me invadiam. Quase não avistava flores, talvez pela altura que as árvores alcançam,ou pela densidade da mata, mas percebe-se a existência delas pelas diversas fragrâncias que sentia. Bom demais. Sempre que o Davi ficava irritado, seja pelo que fosse, bastava colocá-lo no carrinho para passear que logo meu baixinho se acalmava, na floresta.
Impressionou-me o solo. Aquela estória da desertificação, da pobreza do solo quando desmatado, vê-se bem ao caminhar. Qualquer chão que se pise, mesmo estreitas trilhas, ou ao redor das construções, é pura areia. Uma areia tão fina que mais parece poeira. Quase branca de tão clara. Não se vê terra, solo fértil, como se vê em desmatamentos da Mata Atlântica.
E o céu à noite, é um capítulo à parte. Devido a pouca luz elétrica, estamos infinitamente longe de qualquer cidade e os painéis solares permitem uma ou duas lâmpadas por casa, separadas pela floresta e que ficam apagadas sempre que possível , a via látea toma um aspecto magnífico. É impossível não sair um pouco à noite para ver o céu, tôdas as noites. Depois que acabou a lua cheia, porque na primeira semana, a lua era tão brilhante, que quase parecia dia. Nem precisava-se de lanternas para se caminhar. E depois, as estrelas.





Um comentário:

Beatriz Fig disse...

Um outro mundo! Não fazia idéia dos painés solares, da internet... Não acho legal construir casa no meio da floresta. Sempre me pergunto "para onde vão as cacas?!" e isso me chateia, pois acho que o homem se enfia onde não deve e nao tem necessidade, mas enfim... Pelo que vc disse, até que não parece uma invasão tão invasão. Não sei.


Queria ter visto o céu a noite de lá.. deve ser incrível!

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